segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Incêndio Paços do Concelho de Beja - 23 de Julho de 1947 - Primeiras imagens






Fotografias tiradas por Armando Raposo

"No dia 23 de Julho de 1947, pelas 18, devido provavelmente a um curto circuito, ateou-se o fogo nas águas furtadas do edifício dos Paços do Concelho, onde se encontrava instalado o arquivo camarário. Dado o alarme, por algumas das numerosas pessoas que dentro do próprio edifício notaram a presença de fumo, diligenciaram os senhores Cap. Almeida Cassar, Comandante dos Bombeiros e o Dr. Artur Merlim Nobre, chefe da secretaria municipal, alcançar o aposento incendiado, na esperança de poderem dominar as chamas por meio de um extintor de jacto. Estas porém, desenvolviam-se com tal violência que a tentativa foi inútil.
Embora a corporação de bombeiros não se fizesse demorar, o alastramento das labaredas progredia célere, pelo que, o Presidente e Vice-Presidente da Câmara, Senhores Drs. António de Meneses Belard da Fonseca e José Gonçalves Fagulha, com os funcionários da secretaria e outros, iniciaram desde logo o salvamento do expediente, mobiliário e tudo mais que puderam retirar, primeiro pela escadaria do edifício, depois lançando-o pelas janelas, visto a passagem pelas escadas se tornar impossível dentro em pouco.
Do mesmo modo procediam os Senhores Drs. Ivo Pereira e Bernardo Baptista, Juízes, respectivamente das Comarcas de Beja e Mértola, com os funcionários de justiça, quanto ao tribunal.
Nestes denodados e arriscadíssimos esforços cooperou grande multidão, vendo-se empenhada na faina de salvamento e transporte de água gente de todas as idades e condições sociais: oficiais do exército, soldados, sacerdotes, operários e funcionários de outras repartições. Como se receassem a propagação do incêndio aos serviços públicos instalados no rés-do-chão, os respectivos chefes e o seu pessoal retiraram tudo quanto ali existia, ao mesmo tempo que as corporações de bombeiros combatiam as labaredas, entre turbilhões de fumo e o fragor das derrocadas.
Em determinada altura, quando a sua permanência no andar superior se tornou de todo impossível, o Presidente, o Vice-presidente e os funcionários da secretaria municipal tiveram de sair pelas janelas, mediante escadas que os bombeiros lhes lançaram (...)
Pode dizer-se que a cidade inteira assistiu compungida ao desenrolar do sinistro. Beja sabia que o seu arquivo municipal era valioso. Via-o em poucos momentos reduzido a cinzas que o vento dispersou sobre o casario e o pavimento das ruas. Durante semanas volitaram por toda a parte os pedacinhos negros
."
(Abel Viana, Arquivo de Beja, vol. IV, fasc. III e IV, Julho- Dezembro 1946, pp. 364-365).

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